A rede de transportes públicos em Turim pode-se considerar, no mínimo, um pouco confusa, e eu sou uma pessoa que já frequentou transportes públicos em muitas cidades sem nunca sentir grandes dificuldades em perceber como ir de um sítio para o outro.
O metro não existe no centro da cidade, ao que parece a rede só cobre as zonas mais industriais e a periferia, por aqui só temos os autocarros e os eléctricos, que não são como os do Porto, pequeninos e antigos, são basicamente, assim como todos os que existem no resto da Europa, autocarros enormes que andam sobre carris.
Pode-se dizer que ao fim de algum tempo já se conhece os números das linhas principais de cor, estas são também as que tem eléctricos, porque tem uma capacidade maior que os autocarros, como a 3, a 16 ou a 15 (a que uso todos os dias para vir para casa), mas quando queremos ir para algum sítio específico um pouco fora do centro a questão torna-se um pouco mais complicada. É muitas vezes preciso trocar de linha três vezes, e a mesma paragem pode ter paragens em três sítios diferentes, com uns bons cinquenta metros de diferença entre elas, dependendo do autocarro que se quer apanhar. Uma grande ajuda é que as paragens têm sempre o nome da rua mais próxima em vez do nome de reis, atracções turísticas ou outra coisa qualquer, ou seja, sabemos que a paragem S.Giulia será no cruzamento da rua em que estamos a andar com a Via S.Giulia, se depois quisermos apanhar outro autocarro que também pare nessa paragem é que já corremos o risco que seja no cruzamento da Via S.Giulia com outra rua qualquer.
A companhia que gere os autocarros, eléctricos e o metro chama-se GTT, Gruppo Torinese Trasporti, e pode-se dizer que não devem estar a nadar em dinheiro, tendo em conta que todas as pessoas que conheci até agora, simplesmente nunca compram bilhete. O sistema é simples, compra-se um bilhete nas tabacarias pelo preço de 1€, entra-se no autocarro, valida-se numas máquinas que lhes imprimem uns números e quando o fiscal vier, mostramos o respectivo e a vida segue o seu curso normal. O problema (para eles) é que o fiscal quase nunca vem, e se por acaso tivermos azar e ao entrar no autocarro ele estiver lá dentro, temos duas soluções: como os fiscais costumam entrar na primeira paragem, não corremos o risco de ser surpreendidos por um a meio da viagem, assim, basta ter sempre connosco um bilhete limpo e ao entrar validar, e depois comprar outro que certamente não será necessário pelo menos por duas semanas. Caso não tenhamos nenhum bilhete ou formos de facto surpreendidos, fácil, Itália é o país da simpatia, basta fazerem-se de turistas muito estúpidos e perguntarem ofegantemente e muito aliviados de os verem “dove posso buy a tickete?” e eles riem-se e vendem-vos um pelo preço normal.
Atenção, se este esquema não resultar numa futura visita de algum dos leitores a Turim, não me responsabilizo por multas ou visitas à esquadra. Mas por aqui, o primeiro concelho que damos a alguém que conhecemos novo que também venha pelo programa
Erasmus é mesmo “não compres bilhete para o autocarro, não vale a pena”.
Só mais um ponto sobre este assunto: se por vezes o eléctrico parar e virem toda a gente a sair de repente pelas portas, não se assustem, não é nenhuma ameaça de bomba ou algo do género, é que às vezes ele tem uma espécie de avaria, principalmente se forem os antigos, os que são cor-de-laranja, e temos de sair e ficar à espera do próximo enquanto aquele segue o seu rumo com muito menos passageiros, pois assim é a única maneira que ele consegue andar.
Cheguei à conclusão que para mim é muito fácil entender o que é o centro da cidade e onde fica o rio e os pontos de referência e tudo o resto, mas para quem lê, por vezes pode ser muito complicado entender o que escrevo. Assim, colocarei aqui um pequeno mapa de Turim com umas marcações feitas por mim para melhor compreensão dos seguidores do blog.
Com saudades de olhar o rio quando o metro a atravessa a Ponte Dom Luís,
Miguel